"Quando você chegar ao seu futuro, vai culpar o seu passado"? (Robert Half)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Intersecções


 Eu confio mais nas pessoas que gostam de crianças e bichos. Eu confio em quem sabe se apequenar, porque quando a gente encolhe em poder, a gente amplia em amor. Não sei de nenhum outro caminho, senão o de ser mais mundo do que gente. Engraçado isso, de ser menos eu para que um outro eu tenha espaço. Esse alargamento.

Eu me quero interseccionada com tudo. Eu quero tudo intersecciona...do com tudo. É muito? É mundo em estado de amor, apenas.

É que todos somos bons no limite do eu, no limite do igual. O que muda é a margem que define a alteridade. Em "O livro do riso e do esquecimento", a personagem Tamina vai parar em uma terra só de crianças, que, em determinado momento, passam a agredi-la. Kundera explica que essas crianças não são más, pelo contrário, elas sacrificam a mulher, oferecendo seu espetáculo umas às outras, em ato de pura bondade. É Tamina quem está fora do círculo do eu.

Eu acredito na expansão dos círculos de nós, embora às vezes testemunhe circunstâncias que me façam desacreditar de tudo. Eu vi um mendigo apanhando de três policiais, no meio de uma praça cheia de gente. Eu subi no ônibus e não fiz nada, e imagino que ninguém tenha feito. Ele estava fora do círculo de nós, cidadãos. Como também sempre estiveram fora os outros povos, que eram escravizados e dizimados. Como estão fora os animais, que comemos. Eu apostei que em trezentos anos a humanidade será vegetariana, embora eu também não o seja e embora eu nunca conseguirei conferir.

É que eu acredito nesse dia em que... não os bichos terão status de gente, mas a gente terá status de criança, de bicho, de planta, de mundo. Essa fé no amor é meu jeito fanático de ser religiosa, ainda que eu rejeite as instituições.

Eu tinha começado este texto apenas para contar uma história da infância, mas vim divagando até aqui. A minha história tinha a ver com uma menina que conheci há muitos anos e com a fé que ela tinha no mundo dos adultos. Mas, até que tudo se interseccione, já é outra longa história... 

Texto de autoria de Lian Tai (blog Bolinhas da Lian).

 

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